Miss chamada de 'macaca' por vizinha no Dia da Consciência Negra diz que sofre perseguição há anos: 'Foi o meu limite'
Ao g1, Lenita Dellary contou que idosa de 66 anos já a acusou de furto duas vezes. Caso é investigado pela Polícia Civil. Miss de Jaboatão dos Guararapes, L...
Ao g1, Lenita Dellary contou que idosa de 66 anos já a acusou de furto duas vezes. Caso é investigado pela Polícia Civil. Miss de Jaboatão dos Guararapes, Lenita Dellary foi vítima de racismo no Dia da Consciência Negra Reprodução/TV Globo "Foi o meu limite". É assim que a modelo Lenita Dellary descreve o momento em que decidiu denunciar a vizinha de 66 anos que a chamou de "macaca" na quarta-feira (20), Dia Nacional da Consciência Negra. Ao g1, a atual miss de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, disse que é vítima de perseguição e alvo de ofensas racistas há, pelo menos, dois anos. "O dia é muito importante para nós sobre essa questão da consciência negra. Foi importante por ser um feriado nacional. Mas, na hora, eu estava exausta já, estava cansada de tanta perseguição. E de ninguém responder ou intervir. Então pensei: 'É o basta, agora é o meu limite'. Foi o meu limite de tantos anos ela estar me perseguindo", afirmou a modelo. ✅ Receba no WhatsApp as notícias do g1 PE Imagens gravadas pela vítima mostram a idosa, identificada apenas como Nazaré, seguindo em direção à porta da casa da modelo e gritando: "Aprenda a morar em edifício, porque eu moro aqui há sete anos e nunca aconteceu nada. Macaca! Parece uma macaca!” (veja vídeo abaixo). Idosa chama miss Jaboatão dos Guararapes de "macaca" O caso é investigado pela Delegacia de Piedade. O g1 tenta contato com a defesa da mulher que agrediu a modelo. Lenita mora, há quatro anos, num condomínio localizado no bairro de Piedade, em Jaboatão. Segundo a modelo, a agressora começou a brigar com ela dizendo que a modelo não varria o local onde a mãe da jovem cultivava plantas. Depois, acusou a miss de furtar um sutiã e algumas moedas. "Ela começou a me chamar de sebosa por não ficar varrendo três vezes ao dia o local das plantas. Daí foi quando começou a alegação de que eu tinha furtado o sutiã dela e, após isso, no dia do concurso de Miss Jaboatão, ela disse à minha mãe que tinha me visto entrando no apartamento dela e furtando as moedas dela, sendo que eu estava na academia ensaiando para a passarela com uma amiga minha", contou Lenita. A vítima também disse que a idosa espalhou as falsas acusações para os outros vizinhos do prédio. A modelo também contou que, na época, chegou a conversar com a filha da vizinha sobre o assunto. "A filha dela chegou para mim e disse: 'Chame a polícia. Se isso ocorrer, chame a polícia'. Só que aí não tínhamos provas, vídeos, para poder chamar a polícia. [...] E a filha dela falou assim: 'Ah, não sei o que está acontecendo com a minha mãe'. Não tem cabimento eu furtar o sutiã de uma pessoa idosa. Não tem fundamento isso, a não ser o racismo", afirmou a miss. Ainda de acordo com a modelo, apesar da conversa, nenhuma providência concreta foi tomada para mudar a conduta da vizinha. "Acho que existiam os dois lados. Tanto 'vou lavar minhas mãos, não tenho o que fazer' quanto 'denuncia aí porque ela é isso mesmo'", comentou. LEIA TAMBÉM: Datafolha: 59% dos brasileiros consideram que maioria da população é racista Cresce busca por Justiça contra casos de racismo no Brasil Vaso de planta causou discussão Segundo Lenita, a discussão no Dia da Consciência Negra começou por causa de um vaso de planta que caiu na sacada do apartamento da vizinha. A jovem disse que, quando ouviu a idosa reclamar no imóvel ao lado, a mãe dela a orientou a filmar com o celular. "A gente ouviu um barulho, ela reclamando, e minha mãe disse assim: 'Grave porque ela vai te acusar'. Dito e feito. Ela começou a me acusar de ter derrubado essa planta. Comecei a gravar e ela ficou um pouco estressada. Ela disse: 'Vou puxar as câmeras'. E eu falei: 'Puxe, não fui eu'. Quando comecei a gravar, fiz uma cara de questionamento e foi quando ela me chamou de macaca", contou a modelo. A miss falou também que, ao longo dos últimos anos, ignorou as ofensas por se tratar de uma idosa, mas, após o último insulto, decidiu ir atrás de justiça. "Racismo não tem idade. Ela teve essas falas. Ela disse que estava com ódio. Ela tinha ódio de mim. Por que, não sei. [...] Fui atrás de justiça para que ela pudesse pagar pelas palavras que ela tinha, porque não fiz nada com ela. Se eu ignorasse, ia continuar, e coisas piores aconteceriam comigo. Ela poderia muito bem partir para a agressão", afirmou Lenita. Vítima leva provas à delegacia Miss denuncia vizinha por racismo após ser chamada de 'macaca' no Dia da Consciência Negra Dois dias depois de registrar um boletim de ocorrência, Lenita Dellary voltou, na manhã desta sexta-feira (22), à Delegacia de Piedade (veja vídeo acima). Em entrevista à TV Globo, a advogada Jéssika Britto, que representa a vítima, disse que a modelo procurou novamente a polícia para apresentar provas e complementar o depoimento que deu quando fez a denúncia. "No dia do fato, no dia 20, como as delegacias do local onde aconteceu estavam fechadas por causa do feriado, prestamos a queixa. E hoje trouxemos as provas. Temos os vídeos, os áudios, que informam que a agressora está tentando fugir, está querendo entregar o apartamento e ir embora", disse a advogada. Segundo Jéssika Britto, a idosa é investigada pelos crimes de injúria racial e calúnia. "A agressora cometeu o crime de injúria racial, que está tipificado no artigo 140, parágrafo terceiro, o qual, no ano passado, foi equiparado ao crime de racismo, aumentando a pena. Então, ela pode pegar agora até cinco anos de prisão. [...] Além disso, o crime de calúnia, porque ela caluniou a vítima diversas vezes, não diretamente só para a mãe dela [de Lenita], mas para toda a vizinhança", explicou. Veja, no vídeo abaixo, como denunciar casos de racismo: Racismo: saiba como denunciar e buscar seus direitos VÍDEOS: mais vistos de Pernambuco nos últimos 7 dias